A água quente cai sobre o meu corpo sem aplacar a dor. O tempo não perdoa e nem dá chance, é implacável. A coluna não suporta carregar essa carcaça velha por muito tempo. As marcas no rosto são nítidas, já estou quase sexagenário.
Desanimado, me enrolo na toalha e vou em direção ao quarto para me trocar. Tento me apressar para não atrasar mais, mas não tenho a destreza de outros tempos. As mãos tremem...
Em meio aos gemidos, me abaixo para pegar uma camisa e nem percebo a presença de uma pequena criatura. Levo o maior susto! É o meu neto de três anos.
- Vovô! Vovô! Grita o pequeno chamando a minha atenção.
- O que foi!? Por que todo esse desespero?
Ele veio me abraçando com toda a força e disse:
- Vovô não precisa chorar, eu estou aqui...
- Não estou chorando. Está tudo bem!
- Eu escutei vovô. O que aconteceu? Indagou.
Acabando de vestir a roupa, o conduzi até a cama e o sentei. Ele parecia preocupado comigo. O abracei de uma forma que pude sentir o seu coração batendo acelerado.
- Eu não tenho nada não, só que às vezes as cicatrizes das batalhas incomodam um pouco.
- Poxa, vovô! Nem sabia que o senhor tinha ido pra guerra... Mas agora eu vou proteger o senhor, nada vai te machucar. E me abraçou fortemente.
As dores passaram. O meu pequeno bezerrinho está crescendo e estou protegido por um valente guerreiro. Uma lagrima rola, molhando os cabelos dele.